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Engenheiro de UX e os desafios na integração de design e código

Não, você não está em transição de carreira, é sua carreira que está transitando de universo. Parece mais um filme da Marvel que mostra a conexão entre universos paralelos ou contextos baseados em multiversos torcendo o espaço-tempo. Novas perspectivas estão chegando em todas as áreas e as novas tecnologias invadiram o contexto de todos. Neste momento, estamos precisando tanto de psicologia quanto de cálculo para conseguirmos nos entender profissionalmente e “desembolarmos” nossa trajetória nesse novo mundo.

Uma situação complexa que já testemunhei algumas vezes ao longo de minha carreira na criação de soluções de software. Isso acontece quando designers ainda pouco experientes em projetos de soluções digitais, imersos na busca pela estética perfeita, criam layouts visualmente deslumbrantes porém bastante intrincados, sem considerar as limitações e os desafios que desenvolvedores de software vão enfrentar para traduzir isso para as diversas plataformas e construir um código funcional e fácil de ser mantido.

Por outro lado, e aqui, posso falar com bastante propriedade, desenvolvedores aficcionados pelas técnicas mais recentes das linguagens de programação, muitas vezes subestimam a importância de alguns aspectos visuais da interface, detalhes sobre arquitetura da informação e, consequentemente, a experiência do usuário como um todo. É uma desconexão compreensível, mas problemática, que pode resultar em interfaces confusas ou desajeitadas, frustrando os usuários finais e comprometendo a eficácia do produto final.

De um lado temos profissionais da carreira de UX/UI Design e do outro, profissionais de front end, back end e outros perfis dentro da engenharia de software.

Esse artigo da UXPin busca sintetizar os problemas mais comuns enfrentados em projetos de soluções digitais. São eles:

  • Construção de protótipos baseados em imagens
  • Falta de clareza na motivação para algumas decisões de design
  • Desconhecimento sobre experiência do usuário por parte de engenheiros
  • Falta de compartilhamento de informações relevantes sobre o contexto do problema
  • Falta de uma única fonte para o projeto de interfaces e interação

Um caminho de resolução para estes desafios está no emprego das melhores práticas de projetos centrados no usuário e nas metodologias de desenvolvimento ágil de software em que todos são envolvidos adequadamente e colaboram no processo de discovery, design e implementação da solução para um problema. Na mesma linha, contribui muito para mitigar os riscos em projetos, a adoção de um ambiente de trabalho integrado/unificado para o projeto da solução, muitas vezes compreendido no conceito de um Design System maduro (veja esse excelente artigo do Willy Fontenelle no Medium). Outra saída está na contratação de recursos que tenham visão abrangente, servindo de ponte entre analistas de negócios, equipes criativas e equipes técnicas, traduzindo as necessidades em soluções inovadoras e sustentáveis de forma precisa.

Analisando estes profissionais que possuem uma visão ampliada, geralmente estamos falando de pessoas com uma ficha corrida com vários projetos no currículo e que tiveram a oportunidade de vivenciar estas dores, seja de um lado ou do outro e que já investiram noites e noites no sentido de conhecer a realidade alheia para simplificar o processo de passagem do bastão. Eles já conhecem de estratégias de negócios, de como lidar com pessoas, da essência por trás de um bom design e também das engrenagens que foram um bom software. Em síntese, alguém difícil de se moldar, consequentemente de se encontrar solto no mercado.

É nesse contexto que estamos vendo surgir uma carreira que é apresentada nessesite do Googleque propõe a junção de diversas competências em um único papel. Competências como Design Visual, Design de Interação, Engenharia de Software e Gerenciamento de Projetos, conforme mostrado na Figura 1. Estamos falando do Engenheiro de UX ou UX Engineer.

Figura 1 - Competências do profissional de UX Engineering

Bring all your skills into one role . As a UX Engineer at Google, you’ll combine your design, engineering, and product intuition to help build experiences for everyone to enjoy. (Google)

O Engenheiro de UX é alguém que mescla competências que abrangem o design visual, o design de interação, a engenharia de software e o gerenciamento de projetos. O Engenheiro de UX compreende como projetar interfaces que fazem sentido e são agradáveis aos usuários ao mesmo tempo que entende as condições técnicas para tornar isso possível. Além disso, conhece as técnicas de gerenciamento de projetos ágeis usadas para conduzir times multidisciplinares cumprindo prazos e metas estabelecidas. Atua com ferramentas de design gráfico e prototipação como o Figma ao mesmo tempo que interage com ferramentas de desenvolvimento integrado e sistemas de controle de versões como o git e GitHub.

Além disso, o Engenheiro de UX pode facilitar workshops ou sessões de design colaborativo, onde designers e desenvolvedores podem compartilhar suas perspectivas e experiências, construindo uma compreensão mútua que permeia todo o projeto. Essa abordagem não apenas reduz os conflitos e mal-entendidos, mas também leva a produtos finais mais coesos e orientados pelo usuário.

Ao reconhecer e abordar ativamente as divergências entre as disciplinas de design e desenvolvimento, os projetos digitais podem transpor limitações tradicionais. Pessoas com visão ampla e com conhecimento aprofundado sobre características fundamentais de uma boa interface e interação, assim como, de uma arquitetura robusta, podem gerar resultados com grande diferencial no mundo das transformações digitais, ou seja, softwares integrados e escaláveis gerando experiências do usuário verdadeiramente inovadoras e apaixonantes.

Pesquisando pelas oportunidades aqui no LinkedIn, é possível perceber que várias organizações nos Estados Unidos comoMicrosoft,GoogleeProcter & Gamblejá apostam na importância do profissional de UX Engineering com salários bem interessantes que giram na casa de US$ 95k a US$ 280K por ano. A aceitação da carreira também pode ser percebida em vagas disponíveis na Europa e Índia. No Brasil o termo ainda está sendo assimilado pelas empresas, mas, também já é possível encontrar vagas anunciadas com essa terminologia.

E você, já se defrontou com os problemas que relatei aqui? Já se imaginou preenchendo esse gap nas equipes de projetos voltados para o mundo digital?

Se interessou, então conheça o novo curso deEspecialização em UX Engineeringda PUC Minas que trata dessa carreira (EAD AssíncronoeONLINE Síncrono). Encontre os demais perfils de profissionais que atuam no mundo digital na página do Núcleo de Tecnologias Digitais da Pós PUC Minas, a maior e melhor oferta de cursos de especialização da área digital do Brasi

Um estudo da McKinsey sobre o futuro do trabalho pós COVID-19, realizado no ano de 2021, mostra que as áreas de saúde e bem estar são as que mais terão demanda de profissionais, seguidas das áreas de “Tecnologia, Engenharia e Matemática” (conhecida por STEM), conforme apresentado na figura a seguir. O estudo fez um apanhado de 8 países com mercados de trabalho distintos e, embora não inclua o Brasil, traz muita informação relevante.

Futuro do trabalho após a COVID-19 (McKinsey, 2021). The pandemic accelerated existing trends in remote work, e-commerce, and automation, with up to 25 percent more workers than previously estimated potentially needing to switch occupations.

Conforme reportagem do Portal G1, a Brasscom aponta que o setor de Tecnologia da Informação (TI) deve gerar 400 mil vagas até 2024. Diante desse cenário, tenho ouvido muitas pessoas dizerem que precisam mudar de área ou fazer uma transição de carreira no caminho da área de TI. São pessoas de diversas formações, algumas recém chegadas ao mercado de trabalho e outras que estão buscando recolocação. Boa parte destas pessoas querem se tornar cientistas de dados, desenvolvedores de software ou gestores de TI para conseguirem melhores oportunidades de trabalho.

Despois de algum tempo convivendo com alunos nessa jornada, procurei entender o objetivo de carreira dessas pessoas. Ficou muito evidente para mim que elas amam o que escolheram para suas vidas e a profissão que, até então, vinham defendendo. No entanto, as crises recentes reduziram o universo de oportunidades de trabalho e as principais alternativas atuais estão no contexto digital ou exigem certo nível de proficiência em ferramentas de TI que, até então, era exclusivo das pessoas do departamento vizinho.

A importância dos modelos mentais (aka mindsets )

Pois bem, faço a vocês uma provocação: quando decidiram aprender inglês, vocês tiveram que virar professores de línguas? Acredito que não. Vocês melhoraram a condição de aprender com conteúdos existentes apenas em inglês e até começaram a interagir com empresas fora do país e na grande maioria, se mantiveram nas suas áreas de formação. Da mesma forma, a necessidade de desenvolver raciocínio lógico e entender como um software é concebido e entregue, não exige que um profissional se torne umengenheiro de softwareou cientista da computação . Para analisar dados e apoiar decisões estratégicas, também não é necessário se tornar um cientista de dados , por mais que algunsdigam que essa é uma profissão muito "sexy". :)

É ponto pacífico que os profissionais de alto nível precisam aprender os fundamentos da área de computação e as maneiras de como trabalhar de forma mais efetiva com as ferramentas de TI (em outro artigo, falei sobre isso,leia aqui). Por outro lado, é importante levar em consideração a mentalidade trabalhada nos profissionais durante sua formação em suas áreas de conhecimento. Aqui falo da forma de compreender o espaço de problemas daquela área em particular e conceber soluções para os clientes daquele contexto. Ninguém melhor que um administrador de empresas para pensar e implementar os modelos de gestão em uma organização; ninguém melhor que um engenheiro de produção para otimizar processos; ninguém melhor que um cientista social para entender a participação das pessoas nas inúmeras redes sociais que temos e por ai vai. Cada um tem um potencial enorme na sua área de atuação e isso não pode ser descartado ou subjugado.

Competências Digitais

Por outro lado, é certo também que, com o surgimento das criptomoedas, um analista financeiro agora deve compreender a mágica dos contratos inteligentes ( smart contracts ) que se executam automaticamente e os desdobramentos da descentralização de poder provida pela Blockchain. Um engenheiro de produção precisa entender deBusiness Process Management Suites(BPMS), Internet das Coisas (IoT) eRobotic Process Automation(RPA) para inovar nos processos da indústria. Todos precisam compreender como a agilidade na coleta, processamento e disponibilização de informações acerca de indicadores de desempenho potencializam a tomada de decisões em qualquer área.

Acontece que, para muito além da necessidade de aprendermos fundamentos da programação de software e a trabalhar com dados, existem outras competências importantes. Desde 2006, a União Europeia tem feito um esforço no sentido de sensibilizar e promover a conquista de competências digitais para todos os cidadãos. ODigComp(CARRETERO et al, 2017), criado em função desse esforço, define oito níveis de proficiência para as competências apresentadas na tabela a seguir. Isso tem sido utilizado como parâmetro para definir estratégias e políticas para a transformação digital da população nos países europeus.

Competências do Quadro Europeu de Competência Digital para Cidadãos (Carretero et al, 2017)

O Bryn Mawr College apresenta umconjunto de competências relevantes no contexto digitalque devem ser aprendidas por seus alunos antes que eles cheguem no mercado de trabalho. A figura a seguir mostra as cinco áreas de foco para as competências digitais, a saber: (1) comunicação digital; (2) gestão e preservação de dados; (3) análise e apresentação de dados; (4) produção crítica, projeto e desenvolvimento; e (5) competências de sobrevivência digital.

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Os tradutores

Cada vez mais, as organizações estão interagindo interna e externamente por meio das tecnologias digitais e se guiando pelos dados ( data-driven ). As pessoas precisam entender como fazer isso acontecer a partir das coisas mais simples. Essa nova mentalidade baseada no Digital é imprescindível para todos, não apenas por que suas atividades estão diretamente relacionadas com a produção, integração e análise de dados, mas porque os modelos de negócios e a relação entre as pessoas mudaram substancialmente a forma como as empresas se mantém competitivas e geram riqueza.

Assim como aprender o inglês foi uma exigência para atuar no mundo globalizado, aprender a programar computadores é necessário para integrar dados e plataformas, dando maior agilidade aos processos. Tenho chamado esses profissionais digitalmente aptos para os novos desafios de tradutores . Há uma carência enorme de pessoas que entendem do negócio e que consigam conversar com as pessoas da TI, servindo de interlocutores. Pessoas que traduzem necessidades dos diversos usuários em uma organização e ajudam a formatar alternativas digitais criando as soluções inovadoras que estão ganhando o mercado.

Nos dias de hoje, as equipes mais bem sucedidas são multidisciplinares, montadas por meio de uma mineração de talentos e geralmente incorporam esses profissionais coringas que “assoviam e chupam cana”, como diria minha mãe. São pessoas que entendem a complexidade de se projetar um banco de dados consistente e o tempo que leva para se criar um aplicativo que vai parar nos nossos celulares, vencendo o intrincado processo de publicação na AppStore ou na Google Play. Eles compreendem de forma muito própria as necessidades das diversas áreas de negócios e traduzem essas dores costurando a solução com os diversos profissionais da área de TI, sabendo o que cada um faz. É importante ressaltar aqui que uma boa parte dos profissionais de TI não desenvolvem essa habilidade nas suas escolas, outros vão buscar no caminho contrário do que foi feito pelos profissionais de outras áreas, novamente, se tornando tradutores no mesmo processo. :)

Em projetos que envolvem produtos e serviços digitais, esses profissionais de outras áreas, têm sido chamados de donos de produtos ( product owners ), gerentes de produtos ( product managers ), analistas de negócios ( business analysts ) ou são mantidos como pontos focais, algumas vezes como gerentes de projetos ou uma infinidade de nomes que cada ambiente vai demandar. Independentemente do título atribuído esses profissionais, eles articulam com as diversas partes, definem as prioridades, validam entregas, em síntese, agregam valor ao processo e, principalmente, ao cliente. Para isso, é necessário o entendimento dos aspectos técnicos das soluções de TI e também do valor para o negócio e como as decisões nos projetos vão garantir o retorno do investimento feito.

Considerações Finais

Quis compartilhar essa visão com vocês pois tenho visto muitas pessoas sofrendo com a “necessidade” ou proposta de fazerem uma “transição de carreira” para a TI, no entanto, na minha opinião, o caminho é, em muitos casos (eu diria na maioria), de complementação de formação ou de capacitação técnica mais objetiva e focada. Com isso em mente e levando em consideração a abundância de opções que temos hoje, existem muitas alternativas que ajudam profissionais de todas as áreas a se tornarem mais digitais fazendo o que sempre desejaram para suas vidas.

Resumindo, é importantíssimo incluir novos itens no nosso “cinto de utilidades do Batman” mas devemos considerar o modelo mental já criado, nossas competências principais para potencializar o que já fazemos de maneira inovadora e, principalmente, agregando mais valor aos nossos clientes e às nossas organizações.

Você, o que acha? Participe da discussão. Será um prazer trocar ideias e pavimentar a estrada dessa turma em busca da “transição de carreira” nesse multiverso digital.